Fiquei feliz em ter notícias, foi uma surpresa agradável receber tuas palavras escritas de forma tão direta. Sempre vou ter este calor no coração ao lembrar do encorajamento e da fé que você depositou em mim. E desejo muito, do fundo do coração, que você saiba que este sentimento é recíproco. Mesmo. Eis minha oração para que Deus te favoreça com sabedoria, saúde, sorte e serenidade sempre que você achar que já não tem destas coisas dentro de si.
Não quero soar que estou dando justificativas. Como alguém disse, "nossos amigos não precisam delas e nossos inimigos não se importam". Cada um de nós sente o que sente e as coisas acontecem como tem que acontecer. Mas eu nunca te pedi para fazer escolhas que ti tirassem agência ou poder, então não sei como o sonho que você citou poderia ter alguma relação com a realidade. E lamento pelo conto que você leu ter te assustado (pelo motivo errado, afinal se tratava de uma história de terror).
Sinceramente eu nunca encarei o Arkanone como um desvio de personalidade. Mais para um desejo e inveja de certa liberdade moral e espiritual das pessoas em geral. Nunca o vi como um alter ego perverso, apenas alguém com mais praticidade na vida e menos poesia, mais objetividade e menos subjetividade. Em todo caso, sempre foi uma disputa com vencedor marcado, nunca fui capaz de calar a voz do maldito pisciano aqui dentro, aquele cara que vive no mundo da lua e chega lá viajando na maionese, este sim: o verdadeiro nemesis do Arkanone. Em resumo, um embate interno mais filosófico do que psicológico.
Para mim a existência dessa sombra branca é algo do que eu nunca poderei fugir ou esquecer: no fundo da Caixa de Pandora encontro a esperança, e tiro alegria da busca pela felicidade sem me tornar alguém que eu não quero e nunca quis ser de verdade. É um caminho de dificuldade e dor, mas é o caminho que me parece certo. O caminho para casa. Acho que é nele que encontro a minha forma de buscar Deus. Tenho esse sentimento de que sempre que me afasto dos meus sonhos, me afasto da sua Presença, mas se consigo enxergá-los no horizonte, lá enxergo a face Dele.
Talvez tudo isto seja bobagem (assim diria o Arkanone), um retrato bonito de algo passado, e você tem razão ao escrever que não há volta. Afinal as coisas não podem ser como antes, simplesmente porque tais coisas nem existem mais.
Mas de tudo perdido, nem tudo se perdeu. De tudo mudado, nem tudo mudou completamente.
Talvez algum dia certas feridas consigam cicatrizar e, livres de culpa e expectativas, consigamos conversar como os dois bons amigos que fomos um dia. Ao menos essa parte da história nós dois fizemos bem.
Você faz o café? Ou quer que eu faça?
Obrigado por me lembrar da Poesia.
PS: fica bem.
— M
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